Editorial

Então tá tudo bem?

Nem em cenas de filmes de velho oeste o que se sucedeu de quinta para cá no Rio de Janeiro soaria aceitável. O roteiro: um grupo de médicos, após participação em congresso da área que atuam, vai a um bar na orla da praia. Lá, um carro para, alguns homens descem e abrem fogo. Três morrem, um fica ferido.

O primeiro desdobramento foi atribuição política. Por uma das vítimas ser familiar da deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), logo lembrou-se do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL-RJ) e o caso se associou a questões políticas. Rapidamente, essa teoria foi dissipada, já que uma das vítimas supostamente seria muito parecida com um conhecido miliciano do Rio. Os executores teriam confundido e matado as pessoas erradas. Apenas uma "falha profissional", com todas as aspas possíveis.

O desdobramento seguinte é ainda mais assustador: pelo erro, os criminosos teriam sido submetidos ao célere tribunal do crime - termo usado com cada vez mais naturalidade na grande imprensa nacional, como se fosse super aceitável - e, julgados e condenados, foram mortos e seus corpos expostos dentro de um carro para, sem meias palavras, servir de exemplo para outros "profissionais do crime" terem atenção e, principalmente, como bandeira branca às autoridades, tremendo uma resposta das polícias devido à repercussão do caso. Uma espécie de cabeça entregue em uma bandeja. Um "ó, eles erraram e a gente já puniu. Vida que segue, tá?"

O desdobramento final dessa história parece que será a aceitação. Uma espécie de conformação com cenas de barbárie ocorrendo em pleno principal ponto turístico do País. Um "tudo bem, acontece" coletivo. Provavelmente o assunto vai passar daqui uns dois ou três dias. Há chance desse Editorial já soar velho para o leitor que se deparar com ele no domingo, tratando-se de uma edição conjunta. A possibilidade de um novo absurdo sempre nos ronda.

No entanto, isso não pode ser aceitável. A criminalidade tornou-se uma parte viva da nossa sociedade, e a gente sabe que até manual de atuação existe. No entanto, aceitaremos passivamente isso? Em que direção caminharemos ao abraçarmos essa ideia? O que nos aguarda para o futuro ao normalizar a existência de um quarto poder atuante no País?


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